2 de outubro de 2013 - 10:24am
Londres - Inglaterra
Point of View Hazel DiLaurent
Sou acordada por alguém pulando em cima de mim, e para fazer isso só pode ser uma pessoa, com nome de Caleb. Puxo o fino tecido que me cobre um pouco, tampando minha cabeça; nem sequer abro os olhos.– Vamos Haz, acorde! – Pede, manhoso, enquanto me sacode.
– Por que eu faria isso? – Resmungo.
– Hoje você vai voltar para nossa casa. – Sinto as pequenas mãos dele na barra do tecido, puxando-o e revelando meu rosto, mas continuo de olhos fechados.
– Ah, é mesmo! – Eu já até esqueci.
– Levanta Haz! – Pede.
Abro meus olhos e vejo ele apertar o pequeno botão ao lado da cama, fazendo um enfermeiro entrar no quarto. Caleb desce para o chão, enquanto o enfermeiro me pega e coloca-me em uma cadeira de rodas que já se encontra dentro do quarto ao lado da cama, e logo sai.
Apesar de não gostar nem um pouca da cadeira, acostumei a me locomover sozinha com ela pelo hospital, sendo com a "manual" a que eu tenho que movimentar as rodas com as mãos ou a eletrônica, que tenho que apertar algum dos botões.
Caleb se senta no sofá, enquanto eu vou para o banheiro. Paro em frente ao baixo espelho e encaro meu reflexo.
Eu estou mais pálida, minhas bochechas já não tem o seu tom rosado natural, meus olhos estão fundos e com olheiras, de quem não dorme há tempos, o que é completamente verdade. Eu passo noites acordada pensando em minha vida, ou simplesmente assistindo a um programa inútil na televisão. Meus lábios estão esbranquiçados e trincados; meu cabelo está sem brilho, totalmente sem graça, e também estou mais magra, mas do jeito que é ruim essa comida de hospital, já é meio de se esperar.
Minha aparência está completamente sem vida.
Olho para minhas pernas, e eu me sinto tão impotente.
Olho novamente para o espelho, e eu choro. Ouço a voz de Eva perguntando a Caleb aonde eu estou, então trato logo de limpar as lágrimas de meu rosto com as costas da mãos. Ligo a torneira da pia, molhando minhas mãos, as passando em meu rosto e cabelo, o arrumando. As seco na toalha de rosto, em seguida escovo os dentes.
Volto para o quarto e só encontro Eva, ela me entrega um vestido simples preto de alcinhas e me ajuda a vesti-lo, como sempre.
Neste último mês eu só venho usando vestidos, pois são mais práticos e fáceis de vestir na minha situação.
– Vamos, querida? – Pergunta Eva, chamando minha atenção.
– Ah, claro. – Dou um sorriso forçado.
Dona Eva vem até mim, empurrando a cadeira quarto afora. Durante todo o caminho até o estacionamento, ela fala sobre o quanto está feliz por isso e aquilo, mas eu não presto atenção no que ela diz.
Quando chegamos em frente ao carro, avisto Doutor Ethan conversando com Andrew. O médico me cumprimenta e Andrew me dá um beijo na testa, e vejo Caleb já dentro do carro. Dona Eva abre a porta de trás do carro, enquanto meu pai, junto com Ethan, me coloca sentada no banco. Caleb se aproxima, dá um beijo em minha bochecha e sorri. Coloco o cinto, acomodo-me no banco, Andrew se vira para trás, verificando se Caleb e eu estamos com cinto, como se eu ainda fosse uma criança, e então liga o carro e sai do estacionamento. Mas antes de irmos, vejo Ethan colocar a cadeira eletrônica dentro do porta-malas ao invés da manual.
Eu odeio isso; ter que depender deles. Eu nunca gostei disso; depender de alguém, nem antes do acidente.
Olho pela janela e o tempo está completamente fechado, há nuvens por toda parte e o vento que entra pela janela do carro na parte de Eva está frio, o que me faz tremer e trincar os dentes.
– Eva, será que dá para fechar a janela? – Pergunto, ela apenas assente e faz o que pedi.
Volto a olhar pela janela, e começa uma chuva fina.
Lembro-me de quando saí do quarto na cadeira de rodas e alguns parentes meus estavam lá, me olhando com pena, dizendo que tudo ficaria bem, que eu voltaria a andar. Mas não é bem assim.
Tudo não vai ficar bem, eu não vou voltar a andar.
Oh, merda!
Vida ingrata.
Ah Jeremy, você nem imagina o quanto eu quero que você sofra por ter feito isso comigo.
‹‹ ››
Paramos em frente à casa, e ela está completamente igual, pelo menos eu não vejo nenhuma diferença.
Todos saem do carro, menos eu.
Odeio isso.
Andrew me ajuda a sair, Dona Eva vem empurrar minha cadeira, mas eu apenas a olho, fazendo com que ela se afaste. Coloco minha mão no lado da cadeira, sobre o encosto, impulsiono o botão do "controle" para frente, fazendo as rodas se movimentarem. Assim, a cadeira vai em direção a porta da casa. Lembro-me que, em frente a porta, tinha uns três degraus, mas que agora foram substituídos por uma pequena rampa que eu subi. Caleb abre a porta para que eu entre.
Olho para dentro da casa e bem, têm algumas mudanças. Em um canto da grande sala luxuosa, há o que parece ser um elevador.
Não acredito que eles fizeram isso.
Como eles conseguiram?
Nas paredes há apoios, e a sala têm menos móveis.
Eva me pergunta se eu quero comer alguma coisa e apenas assinto, ainda incrédula.
Passamos pelo corredor que dá acesso a cozinha, e na porta onde havia dois degraus agora há uma pequenina rampa. A mesa da sala de jantar ao lado da cozinha está repleta de comidas, sendo em sua maioria doces. A mesma parecia alguns centímetros mais baixa, e também tem um lugar sem cadeira, que aparentemente, a cadeira de rodas se encaixa.
É, estava certa, a cadeira se encaixa perfeitamente.
Pego um pedaço de bolo de chocolate e como, em seguida, coloco um pouco de suco de uva em um copo, tomando-o. Também como alguns outros doces.
Voltamos para a sala de estar, e Eva me manda ir para o elevador. Pois é, estava certa novamente. Apenas um ou dois minutos - não sei ao certo - dentro daquele cubículo, depois chegamos ao andar de cima.
No corredor, cheio de portas, as paredes também têm apoios.
A quinta porta do corredor é a do meu quarto. Abro-a e não é muito surpreendente ele estar com algumas modificações. Ele ainda tem as mesmas cores, bege e preto, e as paredes ainda têm os mesmos enfeites.
As paredes têm alguns apoios como no resto da casa que eu vi, a cama, alguns móveis, a minha prateleira de livros, estão todos mais baixos.
Oh, merda!
Meus pais continuam parados na porta, e antes deles saírem, Eva fala que "qualquer coisa é só chamar".
Aproximo-me de onde estavam meus livros e passo minha mão levemente por eles.
Ah, como eu sinto saudades de lê-los.
Passo por outros móveis, também passando a mão por eles. Paro ao lado da minha cama com a mão sobre ela. Eu senti saudade de cada pedacinho desse quarto, por menor que seja.
Vou em direção do closet abrindo a porta, as roupas continuam no mesmo lugar, os sapatos, exatamente tudo no mesmo lugar, intactos. Passo por eles, passando minhas mãos pelos mesmos. Olho para meus sapatos, a maioria é de marca, mas não vai ter sentido algum usá-los agora, ninguém vai ver mesmo. Saio do quarto e vou em direção à última porta do corredor.
Mil desculpas pela demora, mesmo.
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